Especialistas avaliam que socorro federal é insuficiente para o tamanho do estrago da enchente nas empresas e no emprego.
Economistas das principais entidades setoriais do Rio Grande do Sul cobraram, nesta quarta-feira (12), medidas mais céleres e robustas por parte do governo federal na recuperação dos efeitos da inundação no Estado. Em edição da reunião-almoço Tá na Mesa, a Federação das Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul) reuniu os economistas da Federação das Indústrias do Estado (Fiergs), da Federação do Comércio de Bens e de Serviços do Estado (Fecomércio-RS), da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) e da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre. Os profissionais analisaram as medidas emergenciais para contenção de prejuízos e retomada socioeconômica. O encontro que contou com a presença da AGM e ocorreu no Palácio do Comércio e marca a volta dos eventos presenciais da Federasul. O local estava dentro da mancha de inundação que atingiu o centro histórico de Porto Alegre.
Em coletiva de imprensa antes do evento, o presidente da Federasul, Rodrigo Sousa Costa, afirmou que a entidade está subindo o tom no pleito por ajuda pública em razão da falta de celeridade e robustez do auxílio federal para a reconstrução do Estado. Enquanto esse apoio não ocorre, existe um movimento que respinga em perda de competitividade no Estado, segundo Costa:
— A gente está muito preocupado, porque estamos enxergando uma onda de demissão seguida de êxodo, e nós precisávamos de medidas à altura da magnitude dessa tragédia que não vieram. Essas medidas não vieram.
O economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, afirmou que é necessário uma solução mais efetiva no âmbito do custo trabalhista para os empresários e na flexibilização da jornada em um ambiente onde muitos trabalhadores foram afetados pela enchente:
— Muitos trabalhadores ainda estão com dificuldade de se locomover, de chegar até seu local de trabalho, e também tem a questão da própria demanda. Seria muito importante ter essa flexibilização para dizer o seguinte, olha, cada caso é um caso.
Frank informou que dados do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) apontam queda de 15,7% nas vendas do setor entre 29 de abril e 5 de maio no Rio Grande do Sul. Ele destacou que, nesses momentos de crise, é natural um movimento de centralização dos gastos em bens essenciais, que afeta o volume de itens que não são de primeira necessidade.
O economista e gerente de relações governamentais da Federação do Comércio, Bens e Serviços (Fecomércio-RS), Lucas Schifino, citou proposta de solução baseada em quatro eixos. Tributário, com suspensão ou revisão de tributos, trabalhista, com flexibilizações e auxílios do governo para pagamento de salários de empresas que ficaram com operação reduzida, financeiro, via crédito facilitado e recursos a fundo perdido, e de infraestrutura, baseado em avanço na retomada de ligações modais de transporte. Schifino afirmou que o mês de maio, marcado pelo pico da inundação, ficou descoberto no auxílio do governo federal para manutenção dos empregos. Negócios com estrutura destruída, com a receita pela metade ou com aumento de custos vão receber uma ajuda insuficiente e com defasagem de tempo, segundo o economista. A ajuda federal vem no sentido correto, mas em magnitude longe do ideal:
— O governo não precisa esperar que as pessoas sejam demitidas para pagar um auxílio-desemprego. É mais fácil manter o vínculo com as empresas que vão retomar as atividades daqui um, dois, três meses, quatro, cinco, seis meses, para que essas pessoas não tenham o custo de procurar outro emprego, e esse custo vai acabar indo para o auxílio-desemprego da mesma forma.
Citando o caso do leilão para compra de arroz importado, alvo de polêmica no governo federal, o economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz, afirmou que existe um uso errado dos recursos nesse momento. Na avaliação do especialista, é mais adequado repassar os R$ 7,2 bilhões, previstos para aquisição de arroz, para socorro às empresas e aos empregos.
— Então, não nos parece que o problema seja a falta de dinheiro. Nos parece ser um problema de foco. Um emprego equivocado dos recursos. Que, aliás, é uma característica de governos que dialogam pouco — pontuou Luz.
Impacto na indústria
O economista-chefe da Fiergs, Giovani Baggio, apresentou durante o evento uma pesquisa inédita da entidade sobre os efeitos da enchente nas indústrias gaúchas. O levantamento, realizado junto a 220 empresas do setor, mostra que 81% dos negócios foram afetados pela inundação. Dentro dessa parcela, 63% sofreram paralisação total ou parcial das suas atividades, segundo a Fiergs. A pesquisa também mostra que 64,2% das empresas consultadas não pretendem mudar o local de suas sedes. Já 20,1% ainda não decidiram o que farão com o seu negócio. Baggio afirmou que o estudo também mostrou que, entre os principais prejuízos causados pelo desastre, a logística utilizada para escoamento da produção ou recebimento de insumos é um dos principais destaques:
— As empresas precisam ter condições de colocar o seu produto a preço competitivo no mercado. Senão elas não vão conseguir sobreviver. E a questão logística é um problema que nós já enfrentávamos antes de tudo que veio acontecer agora. Então, o problema logístico foi o mais apontado.
Baggio também reforçou que é preciso um subsídio maior para dar fôlego para as empresas na retomada e manutenção dos empregos:
— A gente saúda a iniciativa do governo, feita na semana passada, mas acreditamos que ela deveria ser muito mais forte, com um tempo maior, com uma cobertura maior de salários. A gente corre o risco de os trabalhadores ficarem sem emprego, sem renda, muitos sem casas e sem até os seus direitos, que as empresas não vão ter condições de pagar.
Fonte: GZH
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